Universidade InComum
  • Para converter a universidade num espaço igualitário de luta pela igualdade

    Publicado em 19/09/2021 às 15:40

    Como a universidade pode ao mesmo tempo promover a igualdade na sociedade brasileira e tornar-se um espaço social igualitário, refratário a todo tipo de discriminação?

    Esse é o tema do próximo seminário do ciclo Universidade InComum, no dia 28 de setembro, às 19h. Para discutir “Universidade para viver em igualdade”, reunimos três forças da natureza humana:

    José Jorge de Carvalho, professor titular de Antropologia da Universidade de Brasília e um dos idealizadores da política de cotas adotada naquela universidade em 2004, a pioneira entre as federais do Brasil.

    Lia Vainer Schucman, professora do departamento de Psicologia da UFSC, uma das principais especialistas do país no tema e no debate público sobre a branquitude.

    Joana Célia dos Passos, diretora eleita do Centro de Ciências da Educação da UFSC, liderança do movimento negro e do feminismo negro em Santa Catarina, uma das principais pesquisadoras dos efeitos das políticas de cotas na sociedade brasileira.

    O ciclo Universidade InComum é uma iniciativa do CFH com o apoio do CCE, do CED e do CSE. As transmissões são pelo canal do CFH no Youtube.


  • Universidade deve formar estudantes com compromisso público e responsabilidade social

    Publicado em 14/09/2021 às 15:03

    O caráter público das universidades deve se refletir na formação dos seus estudantes. Foi o que defenderam o rapper brasiliense GOG e o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, durante as conferências de abertura do ciclo Universidade InComum, com tema é A universidade e a reconstrução do Brasil democrático. O encontro on-line foi realizado na segunda-feira, 13 de setembro, com transmissão pelo canal no YouTube do Centro de Filosofia e Ciências Humanas.

    “Nós devemos formar nossos alunos para que eles não ‘privatizem’ seus diplomas”, disse o professor Renato Janine, explicando que os profissionais formados devem ver a sua formação não como uma mera forma de ganhar dinheiro, mas como um compromisso com a sociedade que bancou seus estudos através dos impostos pagos por todos. “É importante para as universidades públicas deixar claro para seus estudantes que eles têm um compromisso público, uma responsabilidade social”.

    Território distante
    O rapper GOG, acrônimo de Genival Oliveira Gonçalves, lembrou que na sua infância e adolescência, “a universidade sempre foi um território distante”, embora ele fosse filho de professores. De acordo com ele, a expressão “ensino superior” colocava uma ideia de hierarquia e o livro era visto como autoridade.

    Ao falar sobre a democracia, citou que trata-se de um conceito muito relativo, que depende do ponto de vista do observador. “Quando a gente fala em reconstrução democrática é porque o País foi democrático um dia. E quando a gente olha da ótica das periferias, do hip hop, das minorias que na realidade são maiorias, a gente se pergunta: que democracia?”

    Fazendo uso de uma linguagem popular e poética, GOG fez vários questionamentos e reflexões durante a sua fala, tais como: “Eles falam em ‘editais’, mas nós vamos colocar a discussão de ‘é de todos’ e todas”; “A extensão da universidade precisa de intenção”; “Toda a manifestação humana é cultura”.

    O músico também exortou a Universidade a “derrubar os seu muros” e aprimorar a interlocução com as comunidades e outros saberes. “Ela tem que ir na caça dessa cultura que muitas vezes é tratada como senso comum”. Segundo ele, o hip hop tem 30 anos e por muito tempo ficou invisível até para os movimentos sociais, sindicais e partidários identificados com a esquerda. “Nós criamos toda uma estrutura à margem do próprio campo que se diz progressista”, afirmou.

    Responsabilidade social
    O presidente da SBPC apontou em sua fala a grande mudança que ocorreu com a expansão do ensino superior brasileiro e a adoção de políticas de ações afirmativas. Janine Ribeiro disse que também não simpatizava com a expressão ensino superior. “Ensino está para a educação como a informação está para a formação. Na informação aprendemos algo sobre um objeto e isso não nos transforma. Educação significa não apenas um acréscimo de conhecimento sobre objetos, mas uma mudança na formação do sujeito”.

    Ao defender a política de ações afirmativas, o presidente da SBPC lembrou que 50% das vagas nas universidades públicas são destinadas a quem fez o ensino médio inteiramente em escolas públicas. Ressaltou que as cotas são sobretudo cotas sociais e não raciais. “Isso é importante dizer porque muita gente sai dizendo que as cotas são raciais, são racistas, criam desigualdade artificial no Brasil, punem os brancos pobres”. As ações afirmativas provocaram uma mudança de perfil nas universidades e fizeram com que o Brasil deixasse de ser uma sociedade elitista no acesso à educação superior.

    A questão agora é como dar sequência a esse processo de inclusão. Para fazer frente ao grande prejuízo que alunos de escolas públicas tiveram com a adoção do ensino remoto emergencial durante a pandemia de Covid-19 – pela maior dificuldade de acesso a equipamentos, pacotes de dados e até mesmo nos ambientes residenciais pouco adequados – Janine Ribeiro afirma que é preciso investimento de recursos públicos. Já existe uma lei aprovada pelo Congresso que prevê utilização de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para isso, que no entanto ainda não está sendo cumprida.

    As universidades, segundo o professor, também precisam voltar o seu foco para cursos que apoiem o desenvolvimento socioeconômico e científico no Brasil. “É preciso aumentar a produção, o PIB brasileiro, e para isso certas profissões técnicas são muito importantes”, afirmou. Outra área que merece atenção é o meio ambiente, “algo que é ao mesmo tempo uma riqueza e que está profundamente ameaçado no Brasil”.
    O Brasil tem cerca de 20% da biodiversidade mundial, e boa parte dessa diversidade está na Amazônia. “A Amazônia não é um estoque para destruição”. De acordo com o cientista, uma árvore centenária que é derrubada para extração da madeira, no Brasil, em outros países é um objeto de estudos científicos. “Uma árvore com centenas de anos é um banco de dados da história do clima”, exemplificou.

    Por fim, o presidente da SBPC destacou a importância da defesa das universidades públicas, que são o principal lócus de produção científica no Brasil. Essa defesa não deve ficar restrita à gratuidade da universidade pública, embora esse seja um ponto reconhecidamente importante. “Universidade pública não é apenas universidade gratuita; é universidade que tem compromisso com a coisa pública, com o desenvolvimento da sociedade”.

    Contra a racionalidade gerencial

    O ciclo Universidade InComum é uma iniciativa do CFH com apoio dos centros de Ciências da Educação (CED), Socioeconômico (CSE) e de Comunicação e Expressão (CCE). O próximo encontro será no dia 28 de setembro.

    A palestra desta segunda-feira foi mediada pela professora Miriam Furtado Hartung, diretora do CFH, após apresentação feita pelo vice-diretor do Centro, Jacques Mick. De acordo com a professora Miriam, a ideia do ciclo se originou de uma inquietação sobre os efeitos das mudanças que estão ocorrendo no Brasil e no mundo e quanto ao lugar e ao papel da universidade no mundo que se desenha. “O que temos visto ao longo dos últimos anos é uma insidiosa tentativa de transformar as universidades públicas em organizações sujeitas a regras e perspectivas contábeis e gerenciais”.

    (Texto adaptado de publicação original feita pela Agecom/UFSC).


  • Universidade e Democracia se encontram no espaço do Comum

    Publicado em 14/09/2021 às 14:49

    Miriam Furtado Hartung / Diretora do CFH

    A ideia ao propor esse ciclo de debates sobre o futuro da Universidade – as universidades brasileiras em geral e a nossa UFSC em particular – se origina em uma inquietação. Uma inquietação que, imaginamos, esteja nas mentes e nos corações de todos aqueles que se perguntam qual será, afinal, o efeito das “mudanças” que estamos assistindo, já há alguns anos, no mundo e no Brasil, quanto ao lugar e papel da Universidade no projeto de mundo que se desenha.

    De saída, este ciclo de debates serve para reafirmar dois princípios fundamentais e estruturantes do nosso metiê. De um lado, a inquietação que expressa a vontade de dar sentido, de saber, de conhecer, de compreender. De outro, a certeza de que essa inquietação encontra seu mais verdadeiro lugar no debate, no diálogo, na troca de ideias – não no seu sentido banalizado que os “coachs” da vida moderna e os democratas de aparência deram a esses termos. Falo num sentido mais radical, do embate de ideias, do confronto de argumentos, do contraste entre visões e da disputa de entendimentos que, com lógica, evidências e demonstrações, enfrentamos o dilema de compreender o mundo e imaginá-lo como um lugar melhor para as realizações humanas.

    É para encontrarmos, no diálogo – que nem sempre é pacífico ou consensual – aquilo que de melhor podemos pensar em fazer em favor da emancipação e da superação da miséria humana, em todos os seus sentidos. Onde não há debate e onde se força um consenso aparente não há diversidade efetiva, não há reconhecimento da alteridade, da diferença, enfim, do Outro. Esse é, entendo eu, o fundamento e o espírito da ideia, do projeto mesmo de Universidade como lugar onde habita a busca de conhecimento, a produção de saberes, de forma ampla, democrática, inclusiva. Essa premissa deveria ser de conhecimento de todos – essa é a parte Comum de nossa ideia de Universidade: o plano onde Universidade e democracia se encontram.

    A segunda motivação, por outro lado, se expressa na ideia de “InComum”. O que temos visto ao longo dos últimos anos é uma insidiosa tentativa de transformar as universidades em organizações sujeitas a regras e perspectivas contábeis e gerenciais. Tudo funciona como se o conhecimento pudesse ser medido, pesado, comparado de alguma maneira que não apenas sua capacidade de compreender o mundo e transformá-lo em benefício da maior parcela possível da humanidade que esteja em nosso alcance.

    Nas nossas universidades, alguns incautos colegas têm aderido, com inacreditável força e determinação, a esse projeto que poderíamos chamar de “contábil” ou de gerencial. Não é, então, estranho a esse momento o fato, improvável há bem poucas décadas, de que alguns de nós fazem hoje reverência absoluta aos variados e intermináveis mecanismos de quantificação, hierarquização, controle, avaliação e julgamento de nossa produção. Aliás, o termo em si, produção, já deveria ser objeto de estranhamento! E isto parece estar sendo feito sem ao menos termos o trabalho de encarar, seria e profundamente, aquilo que sabemos, por nosso próprio cotidiano, ser muito complexo: como avaliar os outros? Como aferir, com justeza, o que vai dentro das quantidades mensuráveis? Abrimos mão das perguntas que devíamos fazer e ficamos apenas com respostas de que não gostamos, mas que muitos passaram a fazer profissão de fé, repetindo-as como ventrículos.

    Se estas pergunta fossem feitas de forma séria, talvez, alguns não aderissem tão facilmente aos projetos de transformar a universidade e o conhecimento em algo assim como “feitoria de produtos”… enfim, como uma empresa. O conhecimento, o saber na Universidade — cujos contornos começam a aparecer — são tomados apenas como realizações do espírito e da razão que devem ser transformados em objetos tangíveis e aptos a serem expostos em plataformas métricas, idealmente monetizados e, finalmente, apreciados por sua capacidade de serem negociados num mercado ou postos à disposição do “setor produtivo” – o que, não nos enganemos, será sempre a expressão de uma mesma maquinaria que a tudo quer transformar em mercadoria.

    Certamente em contraste com essa visão – verdadeiro “espectro que assombra” as universidades neste nosso tempo – chamamos a essa “mesa”, neste primeiro evento de nosso ciclo, o filósofo e o rapper. Aparentemente, talvez, habitantes de bordas opostas no mundo da razão e da criatividade, a filosofia e o rap, o pensamento vertical, que visa uma altura de onde possa contemplar a vida, e os versos cantados em espiral, que pretendem envolver e envolver-se no ritmo de mundo, são plenas realizações vibrantes de nossa capacidade de pensar e imaginar. Na forma refletida e falada, ou na forma rimada e cantada, a palavra na filosofia e no rap visa sempre o outro, o reconhece e o inclui num diálogo virtual onde se encontram como interlocutores.

    Diferentes, sim, mas idênticas no plano das realizações do humano; ambas realizam à sua maneira a imbricação necessária a um modo de pensamento e reflexão inclusivos, que deve ser a marca de uma universidade verdadeiramente democrática. Que a partir desse instante, então, tomemos a sério a oportunidade de segui-las nessa nossa iniciativa de começarmos a nos pensar e a nos imaginar, redefinindo um horizonte no qual, quem sabe, poderemos nos tornar melhores ou, ao menos, mais atentos ao que pode nos unir na busca de um futuro melhor.


  • O filósofo e o poeta: presidente da SBPC e rapper abrem ciclo de conferências Universidade InComum

    Publicado em 03/09/2021 às 20:00

    O filósofo e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, e o rapper brasiliense GOG fazem as conferências de abertura do ciclo Universidade InComum, evento online confirmado para 13 de setembro, às 9h30. O tema é “A universidade e a reconstrução do Brasil democrático” e a mediação será da diretora do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Miriam Furtado Hartung.

    GOG, o Poeta, é pioneiro do rap brasileiro. Radicado em Brasília, independente, lançou 11 discos autorais, o primeiro deles em 1992. Colaborou com Lenine, Maria Rita, Gerson King Combo, Hamilton de Holanda, Fabiana Coza, entre outros artistas. Publicou, em 2010, “A rima denuncia”, coletânea com 48 de suas letras de rap. Voz respeitada nas periferias das metrópoles, GOG colabora com movimentos sociais, movimentos culturais e com a literatura marginal.

    Renato Janine Ribeiro é professor-titular da cadeira de Ética e Filosofia Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura em 2001 por “A Sociedade Contra o Social”, foi ministro da Educação em 2015, membro do Conselho Deliberativo do CNPq e diretor de Avaliação da Capes de 2004 a 2008. Foi eleito presidente da SBPC em 2021.

    As conferências serão transmitidas no canal do CFH no YouTube. O ciclo Universidade InComum é uma iniciativa do CFH com apoio dos centros de Ciências da Educação (CED), Socioeconômico (CSE) e de Comunicação e Expressão (CCE).


  • Ciclo de seminários discute desafios da universidade brasileira

    Publicado em 17/08/2021 às 15:36

    Para discutir o futuro da universidade brasileira e, em especial, a agenda de desafios da Universidade Federal de Santa Catarina para o próximo período, a direção do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, em colaboração com outras direções de unidades, realizará o ciclo de debates “Universidade InComum”. O objetivo é formular uma plataforma de ação para a UFSC, no contexto do debate para a sucessão à reitoria da universidade, em 2022. O ciclo será composto por uma série de seminários a serem realizados entre setembro de 2021 e abril de 2022 e o apoio é dos centros de Ciências da Educação (CED), Socioeconômico (CSE) e Comunicação e Expressão (CCE).

    A última década foi de extremos para a universidade pública brasileira: de um ciclo marcado por investimento contínuo, fortalecimento institucional, incremento nos recursos para pesquisa e estímulos à internacionalização passou-se – com um golpe no meio – ao momento atual de corte sistemático de verbas, ataques à autonomia universitária e desvalorização da ciência em nome da agenda autoritária e obscurantista por parte do governo federal e seus aliados.

    Neste momento em que a universidade é tão severamente violentada, ela é também mais necessária que nunca. A combinação entre pandemia de Covid19 e o pandemônio produzido em todas as áreas pelo governo hegemonizado pela extrema direita resulta em um país aos frangalhos. Ampliação da pobreza, desemprego na escala dos 14 milhões de brasileiros, escracho cotidiano do regime democrático, economia estagnada e inflacionária, defasagens na aprendizagem, deterioração da infraestrutura pública, aprofundamento das desigualdades, efeitos individuais e coletivos do luto ante quase 600 mil vítimas do coronavírus – para onde quer que se olhe, a sociedade brasileira precisará do apoio das universidades.

    As universidades reagirão à altura? Conseguirão se reinventar num contexto inteiramente adverso, valorizando a diversidade social e intelectual que a constitui? Saberão fazê-lo e, ao mesmo tempo, aperfeiçoar sua operação interna, dotando-a de eficiência e reduzindo burocracias? Conseguirão responder às interrogações transversais do pensamento crítico enquanto se tornam espaços autenticamente igualitários?

    Estes e outros temas serão discutidos no ciclo Universidade InComum.